Enfim, após uma difícil espera de nove meses, chegou mais um BEBÊ, digo, um BBB. Não vejo a hora de gastar meu suado dinheiro em torpedos na tentativa de dar um milhão e meio a um desconhecido que virei fã. Não vejo a hora de entrar naquela comunidade do Orkut com mais de 1 milhão de membros e virar a noite debatendo quem é mocinho e quem é vilão. Não vejo a hora de chorar quando meu escolhido for eliminado. Não vejo a hora de perder horas assistindo aos diálogos sem nexo que os BBB’s têm pela madrugada adentro. Enfim, nossos heróis estão de volta à nave louca!
Minha relação com reality’s shows começou durante uma pequena estada em Guantánamo, na ilha de Cuba, quando fui preso pelos americanos em sua base militar. Câmeras instaladas em todas as partes, vigiando inclusive os momentos íntimos entre os presos, nos faziam sentir num verdadeiro show televisivo. Certa ocasião, para que pudéssemos ter direito a um prato de comida, se é que podemos chamar aquela gosma de comida, tivemos que fazer uma prova de resistência, onde quem ficasse submerso em uma fossa cheia de fezes humanas (se é que podemos chamar as fezes americanas de humanas) teria direito ao grude. Inteligentemente, após ficar submerso por mais de 18 horas naquele excremento, respirando apenas por um canudo de mamona, deixei meu adversário vencer, afinal, não queria mesmo comer aquela gororoba.
Dias após, numa revista de rotina dos militares yankees e seus cães enfurecidos, consegui escapar disfarçado de cachorro. Foi fácil, vesti um uniforme das forças armadas norte americanas e saí falando inglês fluentemente. Já do lado de fora, do outro lado da fronteira, imaginei estar finalmente fora do show de horrores, mas, meu disfarce também enganou os cubanos, que me levaram preso para Havana, onde fui submetido a horas de tortura, ouvindo sessões intermináveis de pachanga, salsa e merengue.
Certo de que iria para o terrível paredão onde seria finalmente eliminado, sem direito a sequer um minutinho no confessionário, comecei a pensar em todos os meus pecados cometidos desde a infância até os dias atuais. Lembrei-me de ter ido a um show da Simoni nos anos 80, assistido diversas vezes o Clube da Criança, com a Xuxa, na extinta TV Manchete, sem falar no programa do Datena, Márcia, Faustão, Gugu e aqueles debates esportivos na noite de domingo. Claro, todos imperdoáveis, mas eu precisava refletir.
Felizmente, por ordem expressa de Fidel Castro, aquele que fidedignamente castrou seus adversários, fui mandado a um campo de concentração de cana de açúcar. Ali, descobri que a rapadura é doce, mas não é mole não. Obrigado a colher o equivalente a cinco carretas de cana por jornada de trabalho, vi os meus sonhos de me tornar um ator de filmes adultos indo por água abaixo, já que a vida média de um trabalhador naquelas condições não era superior ao tempo de corte do canavial. Mas algo me dizia que um dia nós iríamos rir de tudo aquilo, algo não, alguém me dizia. Maria Mercedes era uma mulata que trabalhava comigo. Tinha uma fala doce como a cana e seu corpo era tão belo quanto o caribe. Mercedes me convidou para entrar no canavial, e sem titubear, pulei dentro das canas, como se elas fossem meu edredom, à espera de minha amada. Mas Mercedes queria se perder na plantação de canavial e não nas canas que já estavam na carroceria da carreta. Assim, enquanto o caminhão se locomovia, eu via aquela mulata estonteante ficando para trás, como nas cenas de um filme dramático chinês.
De volta ao Brasil, com mais uma experiência de vida acumulada, fui convidado a trabalhar numa ONG que visava incentivar o intercâmbio Brasil-Cuba. Após algum tempo no setor financeiro sem saber que faziam lavagem de dinheiro sujo naquela instituição, fui pego por uma câmera escondida do Fantástico, aquele Big Brother da vida real, e como se estivesse novamente em Cuba, fui inocentemente levado em cana e tive que viver confinado numa casa vigiada 24 horas por longos 90 dias.
Hencéfallo de Váccuo